sexta-feira, julho 09, 2004

Crise

Haxixe e óleo água límpida e raio dormência e rabiscos palavras e sentidos sentidos sem palavras cólera e amor chuva e lençóis molhados areia fina nas roupas nas costas por dentro pelos de gato nos pratos e xícaras e talheres suor nas toalhas úmidas e papel higiênico desenrolado boiando n’água transparente do vaso flores velhas curvando em sua essência pétalas caindo caindo caindo sobre a mesa velha de madeira cheirosa sândalo perfume de deusas do mar e bolhas de perfume entre os dentes e entre os olhos lacrimejando saudade doida de alguém que não possui forma precisa mais na memória haxixe e álcool visão distorcida dos prédios embaixo do viaduto que se entorta em direção a escuridão da avenida e vão os pombos batendo as patas voando em rebanho juntar-se a alcatéia de pardais e ao marujar de cabras se bem que os peixes voadores mandam um sinal abstrato ao chefe da estação vizinha que adormece sentadinho na cadeira de balanço enquanto seu cachimbo sucumbe a tênue linha de fumaça as crianças correm e gritam andando nos trilhos se vier um trem sai daí que os anjos estão jogando poker e podem distrair um segundo mamãe não grita que o filho está dormindo mamãe não chora que o pai já está indo mamãe não morre que hoje tá um dia lindo mamãe não some que a noite é um menino cheio de vodka sem sorriso e sem destino...

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