segunda-feira, janeiro 30, 2006

Gen

No início não havia o verbo. Formigas e cordões. ..........
Uma braça uma légua um pedaço. Não havia um destino.
A poeira dançava no ar e o fogo era a vida. Do calor das chamas nascia a angústia, a dor.
Rios de lava.
Criptas incandescentes brilhavam rubras e brilhantes. Pedras soerguiam das profundezas do oceano vermelho e abraçavam a areia abstrata. Minúsculos grãos de vermes cronometrados estremeciam abraçados uns aos outros em vida efêmera. Como um caldo de lama. Uma sopa cósmica de verões e primaveras. Não existia o olhar e o sorriso. Ventos aquecidos sopravam o etéreo. O som era apenas uma palavra em um dicionário que não existia.

O início era um vulcão nas ondas de calor e chamas. Não havia o concreto. A síntese. Não pairava sobre a escuridão uma forma. No início não havia trigonometria. Não haviam ângulos. Não havia o ávaro, nem o desprezo.
As asas da borboleta não tinham cor, não existiam. Não se saía à noite em busca de lugares. Em busca de amor. Não havia álcool. Ninguém, pois não havia, buscava o calor dos abraços. Não havia o beijo. A dança. Não haviam carros: nem voadores, nem transparentes, nem teleportes, nem mágica. O sabor era algo que não havia. Ou sapatos. As pessoas não se irritavam, não sofriam com a certeza da morte, pois não havia...as pessoas. O pensamento não se fazia pois não existia pensamento onde coubesse. A imagem não retratava e se guardava, pois ela era apenas uma possibilidade. Sóis e mais sóis e mais luz era tudo que havia. Em meio a nuvens e gas e corredeiras de tormentos, solidão e mais tudo o que era possível existir sem nunca o ser... existia.

No início era tudo muito simples, das formas simples: dos sabores amargos e doces: todos muito simples, sem mistérios ou adornos ou complexidades tais que a própria explicação perderia o sentido. Olhos não se abriam iludidos e turvos para aquelas manhãs que agora eram sonho. Sonho sonhado com as angústias e desalentos das tormentas repentinas. Não havia esperança sintética, planejamento geométrico, visão horizontina, conduta correta. Não havia forma que não se transformasse, fogo que não fosse azul, noite que não fosse fria.

Não havia cor.

De repente tudo era muito branco, palavra que não existia. Congelado no frio do abandono, às intempéries dos ventos mundanos, que rodopiavam acima do que não existia. Do nada que não brotava, das gotas sobre as folhas que não derretiam.... e não pingavam sobre o que não havia de duro. O branco era absoluto e de tão branco não existia. O frio dos redemoinhos que giravam em danças, em bailes, em sinônimos de liturgia, e que se desesperavam, se contorciam, esvaeciam em doces murmúrios de início... porém, na dor dos começos alquebrados, distantes doiam e choravam, choro que não havia pois não havia lágrima.
Ainda assim havia a hera. Havia a trama, o laço, a orgia. O apêndice lua quase já havia. Um calo, uma montanha, um carrosel-montanha russa,... algo que se precipita. Então corriam o tempo e a idéia; tempo que feito sombra existe e não habita; e a imagem que supervicia. Ainda assim o verbo, palavra neonatal, isso que apenas tangecia, ...não supre agora o desespero das palavras que não tinham. Pois que ali no fundo do futuro, oculto entre os brilhos do escuro, pequeno como um suspiro obtuso, os vermes se uníssonos se uniram.